quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Interação ou Interatividade?

Marco Silva, professor doutor da UERJ, pesquisa já há muito tempo a respeito das Tecnologias da Informação e Comunicação - TIC e a interatividade. E define:

Interação: as relações e influências mútuas entre dois ou mais fatores, entes, etc. Isto é, cada fator altera o outro, a si próprio e também a relação existente entre eles. 

Interatividade: está na disposição ou predisposição para mais interação, para uma hiper-interação, para bidirecionalidade - fusão-emissão-recepção -, para participação e intervenção. Portanto, não é apenas um ato de troca, nem se limita à interação digital. Interatividade é a abertura para mais e mais comunicação, mais e mais trocas, mais e mais participação.

As possibilidades advindas com os avanços tecnológicos, apesar de não transformarem o vídeo, a TV, o rádio, em meios interativos, nos instigam a querer transgredir a lógica de comunicação tradicional, unidirecional, predefinida, massiva. Se podemos perceber essa inquietação nos adultos que pertencem à geração da TV, mais acostumados à recepção passiva, o que podemos dizer da nova geração que nasce imersa no contexto das NTIC, onde a lógica comunicacional é a da interatividade?

Para a educação, a compreensão desses conceitos e contextos é de fundamental importância, uma vez que a relação pedagógica é uma relação entre seres humanos imersos numa determinada cultura, por isso mesmo transformadores dela. Logo, a todos os sujeitos da educação deve ser oportunizada essa abertura a um "mais comunicacional".

O professor necessita interromper a tradição do falar/ditar, deixando de identificar-se com o contador de histórias. Ele necessita construir um conjunto de territórios a serem explorados pelos alunos e disponibilizar co-autoria e múltiplas conexões, permitindo que o aluno também faça por si mesmo.

Para tanto, é necessário pensarmos em “território” para além da noção espacial. É necessário pensarmos também em “territórios existenciais” como relacionados a maneiras de ser, ao corpo, ao meio ambiente, às etnias, às nações. Esses territórios, que o professor oportuniza a seus alunos explorarem, têm uma organização, um significado dado a eles pelo professor. Entretanto, à medida que os alunos passam a explorá-los, eles se desterritorializam, fogem da organização dada pelo professor, abrem-se a outros significados. No entanto, no trabalho conjunto de professor/aluno deve voltar a ocorrer uma reterritorialização, que por sua vez levará a novas desterritorializações e assim sucessivamente. Com isso, o ato pedagógico passa a ser o de construção de um mapa. “O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social”.

Isto significa que o professor precisa ser muito mais do que um conselheiro, uma ponte entre a informação e o entendimento, (...) um estimulador de curiosidade e fonte de dicas para que o aluno viaje sozinho no conhecimento obtido nos livros e nas redes de computador. Da mesma forma que o professor não é mais o transmissor, também não é “facilitador” – termo empregado atualmente na maioria dos projetos de uso de Novas Tecnologias em Educação. O papel do professor não é facilitar, como se este fosse um papel secundário ou como se o conhecimento fosse algo difícil para o aluno, que necessitasse de um especialista - o professor - para simplificá-lo, tornando-o então acessível ao aluno. Esse conhecimento é apresentado apenas pelo viés do professor, não passando por um processo de significação coletiva.

O papel do professor passa a ser ainda mais importante do que o papel do facilitador ou do transmissor, seja ele crítico ou não. O professor necessita trabalhar num contexto criativo, aberto, dinâmico, complexo. Em lugar da adoção de programas fechados, estabelecidos a priori, passa a trabalhar com estratégias, ou seja, com cenários de ação que podem modificar-se em função das informações, dos acontecimentos, dos imprevistos que sobrevenham no curso dessa ação. Isso implica trabalhar com incertezas, com complexidades. Na relação professor–aluno-conhecimento deve estar presente a interatividade, não como consequência da presença das novas tecnologias, mas como foco, como uma característica, um requisito, para a construção do conhecimento. Nesse contexto, institui-se uma nova dinâmica: o trabalho do professor intensifica-se, estrutura-se uma nova relação pedagógica e exige-se uma nova plataforma de trabalho, uma nova organização da escola, uma nova competência técnica e política dos professores.

No ambiente online o professor terá que modificar sua velha postura, inclusive para não subutilizar a disposição à interatividade própria do digital online. No lugar da memorização e da transmissão centradas no seu falar-ditar, o professor propõe a aprendizagem aos estudantes modelando os domínios do conhecimento como espaços abertos à navegação, manipulação, colaboração e criação. Ele propõe o conhecimento em teias (hipertexto) de ligações e de interações, permitindo que os alunos construam seus próprios mapas e conduzam suas explorações.

De apresentador que separa palco e platéia, emissor e espectador, o professor passa a arquiteto de percursos, mobilizador das inteligências múltiplas e coletivas na experiência da co-criação do conhecimento. E o aluno, por sua vez, deixa a condição de espectador, não está mais submetido ao constrangimento da recepção passiva, reduzido a olhar, ouvir, copiar e prestar contas. Assim, ele cria, modifica, constrói, aumenta e torna-se co-autor da aprendizagem.

Fonte: http://www.saladeaulainterativa.pro.br/textos.htm

Um comentário:

  1. tipo de social:
    PRECONCEITO SOCIAL :MEDO DE CRIANÇAS QUE FICAM EM
    SINAIS DE TRANSITO VENDENDO DOCE, ETC...
    CUCA

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